Prefácio

 “Se vocês desejarem, isso não será apenas uma lenda” – Theodor Herzl

                Caro leitor,

O formato desta obra diverge do tradicional. Alguns capítulos possuem um tom narrativo, contando a história de forma envolvente, enquanto outros se concentram em análises e comentários perspicazes. O livro irá percorrer a trajetória de um dos maiores líderes da história judaica Theodor Herzl, pai do sionismo moderno, com a maior parte das citações extraídas do livro escrito por Georges Yitshak Weisz.

Desde o início, minha intenção era escrever pensamentos e sentimentos em um livro. No entanto, reconhecendo o poder da interatividade e alcance da internet, optei por compartilhar meu progresso online. Ainda assim, referirei a esta obra como “livro”, pois, ao final, tudo será compilado em um volume coeso.

Este livro é dedicado, em sua essência, aos judeus. Como iehudi na diáspora, alimento a esperança de que, ao compartilhar reflexões sobre o sionismo e identidade judaica, possa, de algum modo, compensar o fato de eu ainda não ter feito Aliá e estar ajudando na guerra. Esta é à minha maneira de servir e apoiar Am Israel.

Estou profundamente convencido de que o maior desafio enfrentado por nós judeus na diáspora é a assimilação cultural, um processo sutil que ocorre quando nos distanciamos de nossos ideais e nos integramos demais às culturas dominantes, perdendo, assim, parte de nossa essência. Esta assimilação é intensificada por um vazio de valores e propósitos autênticos. Somos, indiscutivelmente, definidos e elevados pelos ideais que optamos por abraçar e viver. Se tem uma coisa que eu aprendi estudando a história de Herzl é que quando nos imbuímos de ideais significativos e aspirações elevadas, a nossa própria vida ganha significado, substância e clareza.

Enquanto escrevo, Israel enfrenta uma guerra contra o Hamas na faixa de Gaza, o que pode despertar o interesse de muitos, incluindo aqueles fora da comunidade judaica. Convido a todos para uma imersão no universo judaico, repleto de dilemas, discussões, sonhos e esperança. Caso tenha algum conceito ou expressão que não entendam direito, não hesite em perguntar.

Para compreender o cenário atual, é crucial entender o sionismo. Tentar deslegitimar este movimento rotulando-o como imperialista, racista e europeu – o famoso antissionismo – é uma distorção histórica. Importante frisar que a questão aqui não se trata de críticas legítimas dirigidas ao governo de Israel, mas, ao contrário, nas representações enviesadas que buscam simplificar um conflito complexo, atribuindo culpa unilateral e incessante aos judeus.

Essas narrativas distorcidas, muitas vezes, se manifestam em slogans como “Palestina livre, do rio ao mar”, que, na prática, negam o direito à existência do Estado de Israel. Estamos presenciando um ressurgimento alarmante do antissemitismo em escala global, um preconceito nefasto, porém, infelizmente, não inédito. A jornada dos judeus, repleta de desafios, é marcada por uma resistência tenaz contra o ódio, a discriminação e a violência. Theodor Herzl denominou este dilema persistente de a “Questão Judaica”.

Este livro irá descrever a história do ressurgimento do movimento nacional do povo judeu. O foco não estará no conflito atual com os palestinos e sim na jornada inspiradora de um povo que, armado com uma resiliência inabalável e uma esperança irredutível, reacendeu a chama de uma nação. Testemunharemos como o sionismo não apenas inspirou o renascimento de uma identidade cultural e nacional, mas também serviu como um bastião contra a aniquilação potencial de um povo durante os períodos mais negros da diáspora.

No final do século XIX, a terra da ‘Palestina’ estava sob o domínio do Império Otomano. A ideia de uma nação palestina não existia e a região era povoada por diversas etnias, principalmente beduínos, com algumas cidades dispersas. A composição demográfica religiosa era majoritariamente muçulmana (85%) e minoritariamente judaica (5%) e cristã (10%).[1]

No centro dessa época de transformações, surge Theodor Herzl (1860-1904), frequentemente lembrado como o arquiteto do sionismo moderno. Originário de Budapeste e com uma carreira jornalística consolidada em Viena e Paris, Herzl encontrou-se perturbado pelo antissemitismo europeu crescente. Ele visualizou e promoveu a ideia de um Estado judeu soberano como resposta à “questão judaica”. Em 1896, sua obra “O Estado Judeu” delineou tal visão e, um ano depois, sua liderança no Primeiro Congresso Sionista em Basileia culminou na criação da Organização Sionista Mundial.

Aprecie cada capítulo e permita-se mergulhar nas profundezas das reflexões e relatos aqui apresentados. Esta é uma viagem através da história e da alma judaica, uma tentativa de entender e conectar-se com nossas raízes e aspirações. Vamos entender como a partir de um povo disperso, fragmentado e perseguido, transformamos um sonho não apenas em uma lenda, mas em uma realidade vitoriosa.

Que esta leitura lhe traga insights valiosos e uma compreensão mais profunda do sionismo e da identidade judaica.

Shalom


[1] Mendel, Yonatan . The Creation of Israeli Arabic: Security and Politics in Arabic Studies in Israel. Palgrave Macmillan UK. p. 188. ISBN 978-1-137-33737-5.