
A vastidão do Império Russo no final do século XIX era um horizonte de cidades e shtetls, pequenas vilas judaicas que pontilhavam a paisagem. Os judeus russos, muitos dos quais viviam em condições de pobreza, enfrentavam crescentes ondas de antissemitismo e violência dos Pogroms. Ainda assim, essas comunidades floresceram, mantendo acesa a chama de sua religião e cultura em meio à adversidade.
Em uma dessas cidades, uma reunião secreta foi convocada do lado de fora de uma casa. Homens e mulheres, líderes das comunidades judaicas, reuniram-se sob o manto da noite. O ar estava carregado de expectativa e incerteza.
“Meus amigos”, começou Yitzhak, um dos líderes mais respeitados do movimento Hovevei Tzion – Amantes de Sião. “Muitos de vocês sabem que há anos trabalhamos em silêncio, estabelecendo assentamentos agrícolas na Terra de Israel. Fomos sionistas práticos antes mesmo de o termo ‘sionismo’ se popularizar.”
Havia murmúrios de acordo. Eles haviam ouvido os relatos, como o da comunidade Rishon LeZion e seus êxitos e desafios.
“Mas ouvimos falar de um novo movimento”, continuou Yitzhak. “Um movimento que quer tornar o sonho do retorno à Terra de Israel uma realidade política.”
Algumas vozes se elevaram em preocupação. “Será que isso não é arriscado demais?”, perguntou um homem mais velho. “E se os governos se virarem contra nós, ao tornarmos nossas intenções tão públicas?”
Antes que o murmúrio crescesse, Yitzhak interveio, “Deixe-me apresentar nossos convidados de hoje.”
Do fundo da sala, dois homens se aproximaram. Vestiam roupas europeias modernas, em contraste com as vestes tradicionais dos presentes. Eram Joseph e Dovid.
Dovid olhou ao redor, notando os rostos dos judeus do leste europeu. Eram diferentes dos judeus emancipados que ele conhecia da Europa Ocidental. Estes eram homens e mulheres que trabalhavam a terra, que enfrentavam adversidades. Ele sentiu uma esperança ardente brotar em seu peito.
“Meus irmãos” Joseph começou com um tom solene, exibindo a obra de Herzl, “Nós trazemos a visão de um futuro em que o povo judeu não apenas retorna à sua terra ancestral, mas também estabelece um estado soberano”
Dovid, com sua voz energética, acrescentou: “Olhando para vocês, vejo a força e determinação que precisamos para transformar esse sonho em realidade. Theodor Herzl acredita que só se tornando uma nação política no mundo e tomando nosso destino em nossas mãos é que recuperaremos nosso respeito e honra.”
Em meio ao fervor deste discurso, um senhor de idade frágil começou a se erguer e caminhar em direção a Dovid. Sua bengala estalava no chão de madeira a cada movimento. As marcas da adversidade estavam impressas em seu rosto, as cicatrizes físicas e emocionais de anos enfrentando o preconceito e a violência eram visíveis. Seus olhos, no entanto, ainda queimavam com um fogo de determinação e resiliência.
Silenciando a sala com sua presença, o ancião, cuja vida havia sido marcada pelos horrores dos pogroms, disse com uma voz rouca, mas firme: “Ele está certo. Aqui, no Império Russo, ou em qualquer lugar onde já estivemos, nunca fomos verdadeiramente aceitos ou respeitados.”
Ele pausou, engolindo a emoção palpável em sua voz, e continuou, “Nossas filhas e esposas foram estupradas, nossos filhos e irmãos mortos sem piedade. Eles veem a gente como vermes, como ratos, criaturas a serem exterminadas sem um segundo pensamento. Aonde quer que fôssemos, fomos recebidos com desdém e brutalidade.”
lágrimas brilhando em seus olhos, ele encarou cada rosto na sala, buscando neles a compreensão da verdade. “Eu não conheço esse Herzl, nunca li suas palavras, nem sequer ouvi falar de seu nome até esta noite. Mas, se sua visão é de um lar seguro para nós, um lugar onde podemos viver com dignidade e sem medo, então eu estou com ele. E cada um de nós deveria estar também.”
Yitzhak, com um brilho de determinação, pôs-se de pé, emanando uma energia que parecia contagiar todos à sua volta. Ele respirou fundo e sua voz soou como um trovão, ressoando pelas paredes da sala: “É hora de agir, meus irmãos e irmãs! Vamos espalhar essa mensagem por cada canto do leste europeu, buscar nossos irmãos e irmãs, convocar cada Yehudi que compartilha deste sonho conosco.”
Ele ergueu a mão, como se pudesse visualizar o vasto território que se estendia diante deles e declarou com paixão: “Nosso momento chegou. Vamos convocar todos os Yehudim para o grande congresso sionista. Nossas vozes se unirão, e juntas, serão inabaláveis. A HORA É AGORA!”
[i] Hovevei Tzion (Amantes de Sião): Movimento precursor do sionismo político moderno, nascido no final do século XIX no Império Russo. Constituído por judeus que ansiavam pelo retorno à Terra de Israel, os Hovevei Tzion estabeleceram as primeiras comunidades agrícolas em Eretz Israel e buscavam rejuvenescer a vida judaica através da conexão com o solo e do trabalho agrícola. Representaram uma tentativa prática de retorno à pátria ancestral dos judeus antes da formulação política mais ampla do sionismo por Theodor Herzl.

